sexta-feira, 27 de junho de 2014

O toyotismo na gestão de obras industriais

Na reportagem a seguir veremos que ainda nos dias de hoje, a aplicação do sistema Toyota de produção pode ser a grande saída das obras industriais que sofreram com a crise financeira. O texto detalha as características do toyotismo e mostra como funcionaria a sua aplicação nas indústrias em crise.

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O seguimento das obras industriais foi um dos que mais sofreram os efeitos da crise financeira desencadeada a partir do segundo semestre de 2008. Indústrias do porte da VALE, EBX, Aracruz Celulose, Grupo Votorantin, Toyota, entre outras, simplesmente decidiram postergar ou cancelar a construção de novas unidades. Os efeitos dessa paralisação de investimentos sobre as empresas especializadas em fornecimentos de equipamentos e construções industriais foram, em alguns casos, quase catastróficos.

Empresas de grande porte, com faturamento a partir de R$ 500 milhões por ano, bem estruturadas, buscaram redirecionar seu foco de atuação para segmentos da saúde, shoppings, alimentos, etc, conforme ilustra o artigo da jornalista Daniela D'Ambrósio, no Valor Econômico, do dia 04/03/2009, o "PAC é saída para queda nas obras industriais?". Mas, e as empresas de porte pequeno e médio, como sobreviveram os efeitos da crise? Quantas tiveram força técnica e administrativa para redirecionar seus negócios? Que oportunidades lhes foram proporcionadas, na medida em que elas não tinham experiência e nome nos novos mercados? Afinal, não se adquire experiência da noite para o dia. Precisa-se de tempo e de muito trabalho para esse redirecionamento.
Uma solução para essas empresas é elas se tornarem mais competitivas, reduzindo os seus custos.

O objetivo deste artigo é discutir a pertinência da aplicação de tecnologias de gestão no gerenciamento de obras, para a redução dos custos, especialmente no caso de empresas construtoras e de montagens industriais de pequeno e médio porte. Pelas limitações deste artigo, destacarei apenas algumas ferramentas do Sistema Toyota de Produção que podem ser aplicados na indústria de construção. O estudo completo encontra-se no trabalho de conclusão de curso que realizei na Especialização em Gestão de Projetos pela Universidade Católica de Brasília, em 2009, com o título de "Como a Gestão de Projetos poderá contribuir para minimizar os custos das Obras Industriais".

Sistema Toyota de Produção ou Lean Manufacturing

Sistema Toyota de Produção, ou Toyotismo, é um sistema de organização da produção industrial. Criado no Japão, após a Segunda Guerra Mundial, pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno, foi aplicado inicialmente na fábrica da Toyota, origem do nome do sistema. Devido aos seus excelentes resultados, a partir da crise capitalista da década de 1970, o Toyotismo espalha-se pelo mundo organizacional, sendo aplicado nos mais diferentes setores, de matérias-primas à distribuição, de serviços à indústria, como uma filosofia, também conhecida como Lean Manufacturing, ou Manufatura Enxuta.

Just in Time (JIT) nas obras

A Manufatura Enxuta tem como uma de suas principais fundamentações a eliminação do desperdício, especialmente pelo seu impacto direto nos custos de produção. Um dos procedimentos fundamentais é o Just in Time (JIT), que consiste em produzir o necessário, na quantidade necessária e no momento necessário.

Aproximadamente 30% do tempo perdido nas montagens de equipamentos nas obras industriais são devidos à falta de uma programação que estabeleça todas as atividades no tempo certo e com os recursos necessários. Será que não se pode enxergar uma obra industrial – com suas áreas devidamente limitadas – como se fosse uma indústria montadora de automóveis?

É comum nas obras, um profissional, inúmeras vezes, deixar seu posto de trabalho para buscar uma ferramenta ou material, que já deveria estar a sua disposição. Essa é uma situação, infelizmente corriqueira, em que esse trabalhador, e muitas vezes toda a equipe, têm que interromper as atividades até a disponibilização do recurso faltante. No final da obra, a somatória dessas interrupções significa uma grande quantidade de horas pagas sem produtividade. O JIT reduz custos, pois aperfeiçoa o tempo de cada atividade a ser executada.

Embora seja tradicionalmente aplicado em sistemas de produção seriada, é possível sim utilizar o JIT em obras industriais, por exemplo, montando todos e apenas os equipamentos rigorosamente quando e como foi planejado. A partir do cumprimento rigoroso do que está estabelecido no Projeto, o almoxarifado da obra entregará, no momento exato, todos e somente os materiais, ferramentas e materiais consumíveis necessários para cada equipe de montadores, que deverá, por sua vez, saber o quê e quando montar.

Controles nas obras

Descrevemos, a seguir, controles utilizados no Toyotismo e que, juntamente com o Just in time, podem ser aplicados nos processos de empresas construtoras, especificamente no que diz respeito à montagem de equipamentos utilizados nas obras.

Controle no Processamento da Produção
 – Na elaboração do planejamento, o Gestor do Projeto, o Coordenador da Montagem e seus Supervisores projetarão todos os recursos e custos, dentro de cada período da obra, para que não haja possibilidades de desvios, por falta de recursos ou consumíveis. Assim, a demanda de pré-montagens, atividades que antecedem a montagem final, atenderá o cronograma da obra previsto no projeto.

Controle de Produção
 – Realizar a montagem de somente o que está no escopo de fornecimento do empreendimento. Ter isso claro e formalizado.

Controle de Transporte
 – São dois os problemas que deverão ser enfrentados. O primeiro é monitorar o transporte dos materiais enviados pela fábrica para que cheguem dentro dos prazos planejados e indicados no cronograma, e o segundo, é otimizar o transporte dentro da própria obra, com a entrega dos materiais, ferramentas e consumíveis dentro das necessidades das montagens específicas por equipes. Aqui o trabalho do Técnico de Materiais e do Almoxarife da obra, fará a diferença, pois caberá aos mesmos todo o trabalho de seleção antecipada do que será utilizado. O Técnico de Planejamento também será pessoa importante no processo, visto que a programação de montagem, passa pela sua atualização diária.

Controle das Perdas por Erros da Montagem
 – Caberá ao Técnico de Qualidade e sua equipe revisarem todos os processos de fabricação, materiais a serem utilizados, torqueamento dos parafusos de acordo com as Normas Técnicas, levantamento topográficos das bases civis, enfim, todos os processos que poderão de alguma forma, provocar algum tipo de retrabalho na montagem.

Controle na Movimentação dos Equipamentos
 – Caberá ao Coordenador da Montagem junto com o Técnico de Materiais ter clara e precisa toda a movimentação dos materiais para a pré-montagem e posteriormente para a montagem. Deverá ser rigoroso o procedimento de controle desse processo, pois o tempo perdido em movimentar aquilo que não será necessário naquele momento gerará custos extras pela ociosidade e gastos de horas sem produtividade, tanto da equipe de transporte, como de montadores e de equipamentos.

Controle de Horas Ociosas – O tempo é um dos maiores problemas na geração dos custos extras dentro das obras industriais. Se o Técnico de Planejamento e o Coordenador da Montagem deixarem alguma equipe parada por falta de orientação; se o Técnico de Materiais e o Almoxarife não conseguirem entregar os materiais, ferramentais ou consumíveis, dentro do programado; ou ainda, se o Gestor do Projeto não disponibilizar algum equipamento - um guindaste de grande porte, por exemplo - dentro do programado, tudo isso será motivo para ociosidade das equipes de montagem. Novamente volta a necessidade de aplicação da programação planejada com todos os recursos levantados, de mão de obra, materiais e consumíveis, e o monitoramente e controle de todos os processos que de alguma forma fazem parte do conjunto da montagem dos equipamentos.

Controle de Estoques – Será parte importante do processo o monitoramento do envio dos materiais para obra, através do controle do Técnico de Materiais, que deverá receber antecipadamente os romaneios daquilo que será enviado para poder realizar a conferência do que a administração de contratos - em acordo com a engenharia - naquele momento enviará para a obra. A consistência do envio dos materiais com as necessidades do cronograma da obra é parte do processo que controlará a remessa fora do programado, bem como alguma eventual remessa acima do necessário.

Apesar das crises

A maioria das empresas de médio e pequeno porte que atuam na área de construção não tem cultura de gestão. Raramente são aplicados nos canteiros de obras processos como: padronização de atividades repetitivas, controle de qualidade, ações corretivas, monitoração de desempenho e de resultados, acompanhamento de prazos, controle de custos, e outras tantas atividades básicas na administração de qualquer empreendimento.

Para mudar esse panorama, é fundamental a capacitação do pessoal, especialmente dos gestores e supervisores. Vale destacar que a qualificação do pessoal é um dos pilares do Sistema Toyota de Produção.

Acredito que os maus resultados das obras industriais, principalmente daquelas realizadas por empresas de pequenos e médios portes, justificam a aplicação das ferramentas de sugestão sugeridas neste artigo. Ressalvadas as características particulares de cada processo, acredito que as empresas terão ótimos resultados adotando a linha de pensamento do Toyotismo, pois estarão assim em melhores condições para garantir um bom faturamento, independentemente das crises.

Adm. Esp. Valdair Sarmento
CRA/RS Nr. 29357

Artigo publicado na revista IDÉIAS EM GESTÃO da Faculdade AIEC de Administração, na edição de março de 2010.
fonte: http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/toyotismo-na-gestao-de-obras-industriais/44217/

de: André Bernardon

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